Think, thought, thanks and thus: o Th e o Thorn.
Se nós só conhecemos o nosso idioma materno, no nosso caso o
Português, a tendência é que não consigamos reconhecer e
diferenciar alguns sons de outras línguas.
Podemos ter como exemplo o chinês mandarim e o hebraico, duas
línguas muito diferentes da nossa e também muito diferentes entre
si.
De um lado temos sons que nem sequer fazemos. Um exemplo
simples é o título de um muito famoso livro chinês: o Tao Te Ching, que expõe a filosofia
taoista. O mandarim é uma língua com sons tão distintos dos que
temos em português (ou qualquer outra língua que use o mesmo
alfabeto que o nosso) que o próprio título desse livro tem diversas
transliterações diferentes, como por exemplo Dao Dejing, Tao Te Ching, Tao Te King.
Qual seria o som apropriado?
Por outro lado temos sons que fazemos mas
ignoramos. Muitas pessoas no nosso país se interessam pelo
estudo da Cabala, que é uma tradição exposta em hebraico. Um dos
conceitos estudados na Cabala é o de חסד, que
possui transliterações como Hesed ou Chesed. Esse ח
representa som que fazemos constantemente, mas não temos
letras para denotá-lo. É equivalente ao R que arranha a
garganta.
O inglês é uma língua bem mais parecida com a nossa do que o
mandarim e o hebraico. A razão disso é que no passado os povos que
indivuldamente formaram as populações de cada parte da Europa
conviveram entre si, mesmo falando línguas diferentes e nem sempre
com a paz guiando as relações.
O inglês nasceu de uma língua que hoje em dia chamados de
Inglês Arcaico ou Anglo-saxão. Essa lingua vem de um povo com seu
próprio alfabeto, suas próprias letras e, consequentemente, seus
próprios sons. Por diversas razões eles abandonaram esse alfabeto e
adotaram palavras de outras línguas, principalmente o
francês.
Uma das letras desse alfabeto é o thorn.
O thorn não é mais usado hoje em dia, mas ele denotava o som
que é representado pelo th. Como exemplos temos think, thought, thanks, theater, thus,
thimble e three, e
com certeza outras palavras que agora me fogem à
memória.
Podemos nos sentir tentados a pronunciar como tanks ou fanks,
tink ou fink, títer ou fíter (theater)... Mas não é nem um nem
outro.
O som é o que fazemos quando, debochando, imitamos pessoas com
a língua presa. Colocamos a língua
entre os dentes e sutilmente sopramos: thank you. Não é tree. Não é free. É three.
Existe uma palavra em inglês que denota a língua presa, e essa
palavra é Lisp, ou, como
dizem aqueles com língua presa, lithp.
Aprender um idioma não é aprender só gramática ou só
vocabulário, mas também os sons e a cultura que gira em torno
daquela língua. É inevitável termos sotaque. Provavelmente não
falaremos da mesma forma que um inglês ou um australiano, mas o
domínio desses sons, desses fonemas, aumenta o quanto nós somos
capaz de sermos compreendidos na língua-alvo (nesse caso,
inglês).
Por fim, recomendo que vejam este vídeo, principalmente o
final a partir dos 46 segundos, em que Captain Holt diz em voz alta
as palavras: velvet
thunder.